Tudo que é sustentável desmancha no ar
11/05/12 12:38A COMISSÃO DE MEIO AMBIENTE e Desenvolvimento Sustentável da Câmara rejeitou ontem um projeto de lei que parecia uma ótima ideia: determinava a substituição do carvão mineral por biodiesel nas usinas termelétricas.
Fiquei chocado quando li a notícia na Agência Câmara. Como justamente a comissão de Meio Ambiente defende o combustível fóssil mais sujo dessa maneira? Fui tentar entender o aparente contrassenso e me dei conta de que, como tudo em Brasília, nada é o que parece. E, no final, nem o autor da proposta, nem o relator que a rejeitou estavam particularmente interessados em proteger o ambiente ou evitar a mudança climática.
O projeto de lei 2418 tramita desde 2007 na Câmara. Ele é de autoria do deputado ruralista Homero Pereira (PRPSD-MT), que presidia a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso em meados da década passada, quando o Estado liderava o desmatamento e seu governador, Blairo Maggi, era conhecido nas bocas como o “estuprador da floresta”. O nobre parlamentar propõe na lei a substituição, “em todo o território nacional, do carvão minetal e dos combustíveis derivados de petróleo por biodiesel puro (B100) na geração de energia elétrica”. O prazo dado para o “phaseout” era de 15 anos.
Como está formulada, porém, a proposta nada tem de ambientalista. Biodiesel puro? Por que razão, já que existe tanto etanol e bagaço para pôr na matriz? Bem, porque Mato Grosso, Estado do nobre deputado, é líder nacional na produção de soja, oleaginosa de onde vem o biodiesel. Para substituir os 10% de geração a óleo e carvão no Brasil (dados do Plano Decenal de Energia 2020), a expansão da lavoura de soja precisaria ser considerável.
Além disso, se Homero Pereira estivesse assim tão interessado em evitar emissões de gases-estufa, não seria coautor da infame Emenda 164 ao Código Florestal, que anistiava desmatamentos passados e futuros e que recebeu críticas até de Maggi, hoje um senador da ala ruralista “light”.
O relator do projeto, o também ruralista Giovanni Cherini (PDT-RS), captou a malandragem d0 2418 ao votar por sua rejeição: “Um dos aspectos a considerar diz respeito ao provável avanço da fronteira agrícola induzido pela produção de oleaginosas, o que poderia acentuar o desmatamento nos biomas nacionais, entre os quais a Amazônia e o Cerrado, com impactos deletérios na biodiversidade, no clima, nos recursos hídricos etc.”
Coerente, certo? Mas observe em seguida outro argumento de Cherini, mais revelador, para não querer trocar fósseis por biodiesel: “Cabe ainda lembrar que as significativas descobertas de petróleo na camada pré-sal, na plataforma continental – que, definitivamente, inserirão nosso País no rol dos grandes produtores mundiais –, terão implicações diretas no futuro da matriz energética brasileira e, consequentemente, nos seus efeitos ambientais. Por essa razão, antes que se confirme o real volume de reservas de petróleo prospectado e sua provável destinação, não seria prudente, neste momento, estabelecer quaisquer restrições às fontes fósseis de energia”.
Um voto em separado apresentado pelo ambientalista Ricardo Trípoli (PSDB-SP), previa a substituição total dos fósseis por quaisquer renováveis, com prazo a ser definido por decreto. Foi rejeitado com o restante do projeto.
Não tem como produzir energia sem que se cause algum dano ao ambiente,mais acredito que tem que se buscar as fontes de energia de menor impacto ou seja as renováveis,sou completamente á favor das Hidroelétricas co enormes reservatórios ,porque desmatar para criar boi é pior que desmatar para reservar aguá…que já está faltando no planeta ,ou estocamos ela ou ela vai embora para o mar e nossos rios diminuem o volume e temos ainda menos chuvas por conta do menor volume de aguá no solo, Tenho um projeto no RS que ninguém da valor mais é uma maneira de dar mais sustentabilidade as termoelétricas à carvão ,seria uma co combustão carvão mineral com resíduos sólidos renováveis,CASCA de ARROZ que aqui no RS em muitos municípios tem que ser jogado em LIXÕES,e a mesma tem um poder calorifico superior ao carvão e assim damos mais sustentabilidade ambiental em duas partes INDUSTRIAS ARROZEIRAS e TERMOELÉTRICAS á CARVÃO.
Nossa, de novo não me admira o conteúdo da reportagem. Vamos falar em impacto ambiental? Sim, a atividade extrativa de carvão mineral é altamente impactante, do ponto de vista da transformação topográfica do relevo, e também por conta da poluição das águas, pois no meio das camadas de carvão há minerais sulfetados (tal como a pirita) que oxidam em contato com o ar e são lavados pelas águas. Esse processo dá origem ao que é chamada a drenagem ácida de mina (DAM). Pois bem, o problema da DAM está hoje minimizado, pois não se pode mais beneficiar o carvão sem utilização do circuito fechado de água (a água usada no beneficiamento é tratada e reutilizada). No caso de Santa Catarina (e os dois únicos estados com depósitos economicamente exploráveis são SC e RS) não existe mais mineração de superfície (somente subterrânea) e as áreas degradadas (bem ou mal) vem sendo recuperadas por força de uma Ação Civil Pública. Agora o biodiesel. Pra se extrair biodiesel, são necessárias vastas áreas de solos tropicais sustentando monoculturas extensivas. Os solos são o resultado de um processo lento de evolução, de degradação das rochas sobre uma determinada condição de clima. Alguns solos brasileiros levaram 40 mil anos para atingir seu atual estágio de “maturidade”. Desperdiçar esse bem precioso plantando cana de açúcar para produção de biodiesel é uma idéia no mínimo ignorante. Esses solos devem sim ser guardados como um valioso recurso para produção de alimentos (comida para brasileiros, não soja que alimenta gado que vai para o prato dos europeus) ou mesmo apenas sustentar florestas.
Ana, obrigado pelo comentário. Pelo que depreendo, você é geóloga ou trabalha com solos. Seu raciocínio é perfeito, mas o carvão tem dois problemas que o biodiesel não tem, ambos na queima: emissões de enxofre (que fazem mal à saúde e cujo teor é alto no carvão de Criciúma, que tem péssima qualidade) e de gás carbônico. Curiosamente, quanto mais enxofre tem o carvão, menos sua queima esquenta a atmosfera, mas isso é outra história. Mas, de novo, você está certíssima sobre os impactos do biodiesel. Não há resposta fácil — ou, como dizia James Lovelock em momentos mais lúcidos, não dá para gerar energia sem corromper alguma coisa.
Cláudio, sou geógrafa, não geóloga. Conheço os problemas do carvão e eles são sérios. Entretanto, o que questiono é a demonização de algumas formas de obtenção de energia em detrimento de outras, ditas hoje mais “sustentáveis”. Isso me parece a simplificação de um problema que é mais complexo do que carvão e petróleo são maus por causa de enxofre e dioxina. Energia eólica por exemplo. A idéia em teoria é muito romântica, mas seus impactos são sérios sobre a avifauna, e começam a ser reportados e questionados na Europa e aqui mesmo no Brasil. Além dos impactos sobre as rotas de aves migratórias, os parques eólicos estão sendo construídos sobre áreas de grande fragilidade e importância ambiental (e isso demanda o aterro das áreas que receberão as torres), tais como manguezais (que deveriam ser intocados), áreas de banhados (protegidos pela Convenção de Ramsar) e dunas. Li outro dia ainda sobre uma pesquisa que apontava para modificações locais no clima do entorno de um Parque Eólico. Já as placas fotovoltáicas possuem baixa eficiência e também provocam impactos sérios relacionados à mineração, uma vez que demandam elementos químicos como silício (maior parte), boro, cádmio, fósforo (cuja mineração também é causadora de chuva ácida), entre outros. Sobre os impactos do biodiesel já comentei na mensagem anterior. Creio que demonizar e abandonar simplesmente um modelo e adotarmos outro sem quantificar seus reais impactos (impactos em escala) não me parece razoável. Acredito que deva sim haver um controle ambiental sério de cada uma dessas atividades, e sim, acho possível e desejável termos uma matriz energética multimodal, com energia eólica, hidrelétrica, termoelétrica fóssil, entre outras, mas que se defina relmente os locais mais apropriados à exploração de cada uma.
O nobre repórter esqueceu que é repórter? Toda a matéria tem ranço ideológico. Mais parece, a matéria, um desabafo de um eco-clorofila. Que pena, o jornal, me parece que é para informar. Bem, estamos iniciando a época eleitoral mesmo, coloca na conta.
Ah, a leviana sustentabilidade do ser.
[]s,
Roberto Takata