Está aberta a temporada de céticos
15/05/12 09:10MAIS INEXORÁVEL que engarrafamento em São Paulo e mais previsível que o conteúdo das matérias de Natal dos telejornais, começou com tudo a temporada de céticos do clima 2012. Desde que me entendo por jornalista, e já faz um bom tempo, todo evento internacional onde se debate energia e/ou mudança climática é precedido de um surto de noticiário de teor negacionista.
Foi assim em 1995, quando o IPCC (o painel do clima da ONU) lançou seu Segundo Relatório de Avaliação, apontando uma interferência “discernível” dos humanos no clima. Foi assim em 2001, com o Terceiro Relatório de Avaliação. Em 2002, véspera da Rio +10, quando a Exxon pediu e George W. Bush derrubou o presidente do painel, Bob Watson; em 2007, quando a mesma empresa pagou cientistas para escreverem contra o recém-lançado Quarto Relatório de Avaliação do IPCC. E em 2009, quando estourou o famoso escândalo dos e-mails roubados, o “climagate”.
Naturalíssimo, portanto, que a Rio +20 (que vai debater energia, mas não clima) seja precedida de um pico na, digamos, atividade celular dos céticos mundo afora. Os ataques se concentram, claro, nos EUA, onde a “crença” no aquecimento global virou uma das principais distinções entre democratas e republicanos e já fez até o relativamente progressista Mitt Romney mudar de ideia publicamente sobre o assunto. Neste fim de semana, o principal “think-tank” negacionista do planeta, o Heartland Institute, organiza em Chicago sua sétima conferência do clima, estrelando figuras como presidente checo, Václav Klaus, autor do impagável “Planeta Azul em Algemas Verdes”.
(A origem e o modus operandi dos negacionistas da mudança climática — que são os mesmos a também negar o buraco na camada de ozônio e, antes disso, a ligação entre o tabaco e o câncer — foi descrita pelos historiadores americanos Naomi Oreskes e Erik Conway no espetacular “Merchants of Doubt”, publicado nos EUA em 2010.)
Os respingos neste ano chegaram até o Brasil, onde um cético de novíssima cepa, um certo Ricardo Felício, geógrafo da USP perfilado no último domingo por esta Folha, anda arrebatando multidões em fóruns notoriamente científicos como o Programa do Jô. Os argumentos são os de sempre: há uma enorme conspiração ambientalista/comunista para acabar com a livre empresa, o capitalismo e o direito de ir e vir; essa conspiração tem tentáculos no “establishment” acadêmico e domina as publicações científicas; e é por isso que mentes brilhantes como o doutor Felício são perseguidas e não conseguem publicar seus dados nos periódicos com “peer-review”, tendo de ostentar currículos relativamente acanhados.
A safra negacionista 2012, porém, provavelmente acabará fazendo mais bem do que mal à ciência. Por dois motivos: primeiro, ao elevar o perfil de um assunto para o qual o público não dá mais a menor bola (“falem mal, mas falem de mim”), e num momento no qual alguns cientistas, como o brilhante porém algo alarmista James Hansen, da Nasa, declaram que o mundo já acabou de qualquer jeito.
Segundo, porque o Heartland cometeu na semana passada aquele que provavelmente foi o pior erro de relações públicas de sua história: uma campanha publicitária com outdoors que trazem a frase: “Eu ainda acredito em aquecimento global. E você?” e fotografias de gente do bem como o Unabomber, terrorista americano, e o ditador Fidel Castro.
Segundo reportagem de Suzanne Goldenberg no jornal “The Guardian”, o faux pas já custou ao Heartland associados, como o cientista e cético Chris Landsea, especialista em furacões, e, o que é mais grave, doadores corporativos. Nesta semana, a Eli Lilly, a Pepsi co. e o banco BB&T anunciaram que vão parar de dar dinheiro à organização ultraconservadora. Acharam que comparar os “crentes” na mudança climática com assassinos seriais poderia fazer mal às suas respectivas imagens. Hm. Jura?
Em tempo: o Sr. Ricardo Augusto Felício NÃO É GEÓGRAFO e sim, Meteorologista.
Claro que há influência da floresta amazônica no clima global.
Acredito que a floresta amazônica, o grande aquífero Alter do Chão (de
recarga hídrica e não fóssil), os rios voadores húmidos amazônicos, os
solos (majoritariamente lateríticos), os Andes (barreira natural e
berço de muitos afluentes do Rio Solimões/Amazonas), etc., constituem
um complexo de fatores interligados e interdependentes que influenciam o clima, inclusive, fora da
região e da floresta amazônicas, que pode ser fragilizado, até de
forma irreversível.
Seja aquecimento ou resfriamento, as mudanças climáticas sempre
existiram, mas não tão potencializadas pela ação antrópica como na
atualidade.
Boa, Claudio!
Por uma questão bem simples SR: CLAUDIOANGELO, voçê se intitula jornalista, e em qualquer dicionário define jornalista “como alguém que lida com notícias…e divulgação de informação”. Como busco informações e relatos, não posições IDEOLÓGICAS, nada mais justo que manisfestar meu descontentamento. Agora se queres só elogios, então vá sentar no colo de sua mãe.
Olá Cláudio, gostaria de saber por que você chama James Lovelock de “cientista britânico” e Ricardo Felício “um certo Ricardo Felício, geógrafo da USP”. Ricardo Felício não é um cientista, em sua opinião?
Atenciosamente,
Alexander
Até onde pude verificar, ele é geógrafo físico, confere? Abraços epistêmicos, claudio
Bem, você é quem está afirmando, deve ter ido em busca de informação fidedigna. Um pesquisador na área de ciências é um cientista, nada mais nada menos. A propósito, geografia é ciência. Dê uma consultada na wikipedia, caso sua biblioteca particular não contenha algo de mais substância.
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4769802H5
Perfeito. No link que você posta, vemos:
Grande área: Ciências Exatas e da Terra / Área: Geociências / Subárea: Geografia Física.
Grande área: Ciências Exatas e da Terra / Área: Geociências / Subárea: Meteorologia.
Grande área: Ciências Exatas e da Terra / Área: Oceanografia / Subárea: Oceanografia Física.
Ciências Exatas e da Terra. Um pesquisador, doutor em sua área, quem faz ciência é… cientista.
Obrigado,
Alexander
Não entendi o comentário/crítica. Se foi dito que o sujeito é geógrafo – e Geografia é Ciência – por que considerar que não foi chamado de cientista? Faltou foi dizer a especialidade do britânico, não?
Busa, você está certíssimo. Se esse repórter Cláudio Angelo realmente estudasse o assunto a sério não teria coragem de publicar o que o editor dele manda. Negar o aquecimento não significa dizer que se possa jogar lixo no chão, ou cortar as florestas ou poluir as águas. Não significa dizer que não se deve atentar para os impactos AMBIENTAIS causados pelo Homem nas atividades cotidianas. Significa que se compreende que, na dinâmica GLOBAL do clima terrestre quem manda é o Sol e alguns outros fatores de origem astronômica, principalmente. E não se nega que não exista influência humana sobre os microclimas terrestres. Agora alguns vão dizer: ah, mas somadas todas as mudanças nos microclimas teremos uma mudança climática global. A questão é que os sistemas complexos, como é o caso do sistema climático terrestre, não são simples como 1 + 1 = 2. É por isso que cientistas como o prof. Felício entre muitos outros climatologistas, afirmam que o clima ainda é muito pouco conhecido. E Felipe, cuidado quando falas nos maiores cientistas climáticos e que todas as academias de ciência do planeta corroboram tal teoria. Isso é absoluta mentira. Cláudio Angelo, você pode até influenciar algumas pessoas com pouco senso crítico, mas há um grupo bem grande de cientistas e pessoas sérias que despreza o tipo de jornalismo que você se propõe.
Os que se julgam céticos estão baseando suas hipóteses em idéias muito frágeis. Fico impressionado como as pessoas são tão influenciáveis…tantos livros de química explicando a influência de gases atmosféricos e suas reações…e isso é ciência exata, como pode-se negar estudos de uma ciência exata a partir de hipóteses de conspiração?? É negar toda a ciência e desacreditar todos os levantamentos de dados feitos. E o pior é que está criando seguidores…cegos na maior parte, assim como há também do outro lado da moeda. Mas como no texto, o importante é voltar as discussões a respeito do tema. Com certeza os dados agora serão mais peneirados antes de virem a tona, evitando informações catastrofistas sem fundamento. Pelo menos por um tempo será o fim da “fadiga climática”.
Do aquecimento global, muito temos que discutir, é verdade. As ações certamente devem ser em decorrência dos resultados da discussão, mas o que me chamou a atenção, Claudio, são suas respostas irônicas e cínicas àqueles que, com todo direito do mundo, discordam de você. Provavelmente receberei uma, também, vinda deste seu complexo sabe-se lá de quê, mas que é peculiar aos que não aceitam o live arbítrio, mesmo que ele nos leve para guerras ou destruição. Abraços nem perplexos, nem históricos.
Que os padroes climaticos do planeta estao se transformando todos sabem. Que existem interesses politicos/economicos de grupos pro ou contra a tese do aquecimento global, idem. Se de Co2 causa/influencia, ou nao, a elevacao do aquecimento é debate cientifico que precisa ser levado ao grande publico ? O que eu nao tenho visto na imprensa, sao as abordagens cientificas sobre a influencia do Sol, que atraves dos seus ciclos, segundo essa outra corrente de cientistas, determina de forma amplamente superior, o aquecimento ou o resfriamento ciclicos do planeta.
Tak, você não vê isso na imprensa porque é notícia velha. É óbvio que o Sol DETERMINA o clima da Terra, e sua influência nos ciclos de aquecimento e resfriamento é conhecida desde Agassiz, Fourier e Milankovitch. É informação de livro-texto. Não é disso que trata a ciência do aquecimento global antropogênico. Abraços históricos, claudio
Toda vez que tento ler uma matéria deste Sr. Claudio Angelo, me pré disponho, que vou encontrar uma matéria jornalistica. Continuo me enganando, pois o que encontro, é uma defesa ferrenha de uma ideologia. O jeito é, entender, que tudo o que este Sr. escreve, por enquanto, é uma defesa de um ponto de vista. Se eu quiser buscar informação imparcial, já entendi, que não é com este Sr.
Ué, por que insiste, então? Abraços perplexos, claudio
Analisei todas as alegações do professor no Programa do Jô:
http://genereporter.blogspot.com.br/2012/05/jogo-dos-erros-3.html
http://genereporter.blogspot.com.br/2012/05/jogos-dos-erros-3b.html
http://genereporter.blogspot.com.br/2012/05/jogo-dos-erros-3c.html
http://genereporter.blogspot.com.br/2012/05/jogo-dos-erros-3d.html
[]s,
Roberto Takata
É inacreditável que em 2012 muitas pessoas ainda não tenham compreendido, a par de todas as evidências científicas, que o clima está mudando no nosso planeta – nossa única morada – e que esta mudança já causa sérios prejuízos à humanidade. O aquecimento global é causado pela maior concentração de gases-estufa na atmosfera (principalmente o CO2), e o nível atual deste gás está em 396 ppm. Aos interessados, entrem no site CO2 now e vejam o que está ocorrendo com nossa atmosfera.
Meu caro Felipe, se informe melhor antes de falar besteira sobre “gases-estufa na atmosfera(principalmente o CO2)”. Vai aí uma ajudinha, assista o filme “A Grande Farsa do Aquecimento Global” pelo youtube.
Cara Márcia, se tu tivesses uma mínima noção do que dizem os maiores cientistas climáticos, tu não escreverias uma bobagem destas. A relação entre aumento dá concentração de dóxido de carbono na atmosfera e aumento da temperatura média do planeta já está mais do que provada cientificamente. Entre no site da NASA sobre mudanças climáticas e se informe melhor. Só por informação, todas as academias de ciência no planeta inteiro corroboram a tese do aquecimento global. Isto é ciência e não questão de crença!
e desde quando a opinião da maioria é critério de verdade?
E quem aqui falou em “verdade”, Daniela? A Ciência (que é o ponto principal da questão) não tem pretensão de estabelecer uma verdade, mas de apresentar “evidências” para um hipótese (algo bem diferente em termos de conceituação). E quanto maior o número de pesquisas indicando para uma certa evidência (maioria), mais aceitável é uma hipótese (ou seja, você cometeu outro erro em falar de “opinião” num contexto científico).