Sim, querida, nós estamos aquecendo o mar
10/06/12 21:37NÃO EXISTE NADA MAIS CHATO no mundo do que uma teoria científica sólida. Teorias científicas sólidas no mais das vezes se produzem por meio de textos herméticos, cheios de matemática intratável (como os três artigos de Einstein de 1905) e/ou linguagem bizantina (como “A Origem das Espécies”). São difíceis de entender, difíceis de explicar e pavorosamente incrementais. Nada sexy. Uma coisa, porém, as diferencia de teorias fracassadas, pseudociências e religião: seu poder de explicar e fazer previsões melhora com o tempo.
Tomemos, mais uma vez, o exemplo da hipótese de que atividades humanas estão causando o aquecimento anormal da Terra. Em outros tempos eu não gastaria uma noite de folga voltando a explicar esse assunto. Mas, como você já leu aqui, o ceticismo climático voltou a ser “fashion” por uns meses por causa da Rio +20, e neste fim-de-semana até a insuspeita revista “Veja” (que tem um jornalista de ciência na direção) caiu na esparrela e publicou uma reportagem tosca na edição “comemorativa” da conferência do Rio dizendo que “é difícil dizer quem está certo — os céticos ou os radicais — no impasse do aquecimento global” (grifo meu).
Bem, na verdade não é, não. Neste domingo, enquanto “Veja” chegava às bancas, o periódico científico “Nature Climate Change” publicava um artigo de um grupo internacional de pesquisadores que bateu o último prego no caixão das dúvidas sobre se o sinal de influência humana era detectável no aumento visto na temperatura dos oceanos nas últimas décadas.
O grupo liderado por Peter Gleckler, do Laboratório Nacional Lawrence Livermore, nos EUA, mostrou com 99% de certeza que o aumento registrado de 0,025°C por década nos primeiros 700 m de coluna d’água no mar em todo o planeta nos últimos 50 anos só pode ser explicado por influências humanas. Na linguagem estatística usada pelo IPCC, o painel do clima da ONU que virou a Geni dos céticos (e da revista “Veja”), a influência humana no aquecimento do mar deixou de ser apenas “muito provável” e tornou-se “virtualmente certa”. A mudança já vai constar no AR5, o Quinto Relatório de Avaliação do IPCC, a ser publicado em 2014.
O estudo de Gleckler é o primeiro a combinar dados de temperatura dos oceanos, medidos por três grupos de cientistas, com 13 modelos computacionais que simulavam a resposta do oceano ao aquecimento da Terra. Um colega de Glecker, Ben Santer, deu aos dados o tratamento estatístico que permite distinguir se há de fato uma “impressão digital” humana ou se se trata de variabilidade natural do sistema. A conclusão é que, sim, existe uma imensa variabilidade natural e que os modelos tendem a subestimá-la. Porém, a variabilidade precisaria ser duas vezes maior do que o observado para invalidar os resultados.
Os oceanos são a chave para o entendimento do clima, já que eles estocam 90% do calor da Terra e sua elevação neste século pode causar impactos sérios sobre boa parte da humanidade. Entender como o mar responde ao aquecimento é crucial para saber se em 2100 os cariocas enfrentarão apenas ressacas mais pesadas ou precisarão se mudar da av. Atlântica para o alto do morro.
A nova pesquisa é um exemplo acabado de como a hipótese científica do aquecimento global antropogênico só ganha mais força à medida que novas observações são feitas — ao contrário dos argumentos dos negacionistas, incapazes de produzir evidências novas que sustentem suas teses. Até 2008, os modelos e os dados de observação não concordavam entre si, o que fez com que o Quarto Relatório de Avaliação do IPCC projetasse o aumento do nível do mar em apenas 60 cm no máximo no fim do século 21.
Entra em cena a oceanógrafa Cátia Domingues, uma brasileira radicada na Austrália, pesquisadora do Csiro, a organização científica nacional daquele país. Em 2008, ela publicou na “Nature” um estudo mostrando que um dos principais instrumentos usados para medir a temperatura do mar, o XBT (um torpedinho descartável com um termômetro na ponta), continha um erro sistemático — descoberto no ano anterior por outros dois cientistas — que o fazia a variabilidade “natural” nas observações ser muito maior do que ela é. Os resultados de Domingues fizeram os dois outros grandes grupos que mediam as temperaturas globais dos oceanos reverem suas séries de dados. Finalmente observações e modelos passaram a concordar.
Gleckler aproximou ainda mais modelos de observações ao fatorar em seus dados o efeito estimado de erupções vulcânicas, que ajudam a resfriar o planeta. Ou seja, só quando causas naturais e causas humanas são combinadas é que é possível explicar a tendência.
Você deve estar se perguntando: “E daí que o mar está esquentando menos de um décimo de grau por década?”
“Parece um número pequeno, mas é enorme”, diz Domingues, que assina o novo estudo juntamente com Gleckler, Santer e outros cientistas dos EUA, Austrália, Índia e Japão. “Imagina quanta energia é necessária para esquentar um oceano que cobre 2/3 da superficie terrestre e ainda multiplicar isso por uma distância de 700 m na vertical. Se essa energia fosse instantaneamente transferida para os 10 km da atmosfera acima da superficie, a temperatura média da atmosfera seria em torno de 25°C”, continua. Ou seja, 10°C mais do que a média da Terra hoje.
“Com o aumento da temperatura, a água do mar fica menos densa e o volume expande, consequentemente o nivel do mar sobe. Mesmo que a gente parasse de aquecer os oceanos hoje, eles continuariam expandindo termicamente por causa da imensa inércia deles.”
Como isso se refletirá na ponta, ou seja, no nível do mar em 2100, ainda é objeto de debate e dependerá do outro componente principal da elevação do nível do mar: o degelo da Antártida Ocidental e da Groenlândia.
Em tempo: aparentemente Gleckler pediu para que um comunicado à imprensa do laboratório tivesse declarações suas mais chochas para evitar que elas virassem “cause célèbre” dos negacionistas do clima. Isso dá uma ideia do grau de patrulhamento ao qual a ciência foi submetida nos Estados Unidos pela direita. Como até a direita no Brasil é avacalhada, espero que a moda não pegue por aqui.
Com certeza a maioria dos debatedores por aqui ja ouviu falar dos creditos de carbono, uma das “estrategias” implementadas pelas corporacoes financeiras – que veio na esteira do marketing mundial do aquecimento antropogenico -, baseando-se nos dados do IPCC.
Quem pesquisou um pouco, sabe por quem foram financiados os cientistas, pesquisadores e fundacoes que lancaram as hipoteses do aquecimento; assim como também é de conhecimento publico que essas mesmas fontes de financiamento – que controlam significativa parte da midia mundial -,orquestraram o marketing que mencionei. Todo esse movimento fez-se representar aqui na Rio+20 e, ainda bem, tiveram as suas espectativas frustradas por nao conseguirem validar a transformacao da Pnuma em agencia mundial com poder de interferir nas legislacoes de estados soberanos. Mas nao pensem que esse pessoal vai desistir. Agora ja estao falando na ampliacao e fortalecimento da Ecosoc (Conselho das Nações Unidas de Desenvolvimento Econômico e Social), que segundo seus defensores deve ter um papel central na GOVERNANCA do desenvolvimento sustentavel.
O que precisa ficar claro, e debates como esse aqui no jornal contribuem para esse fim, é distinguir quais sao as iniciativas e projetos essenciais para a seguranca e prosperidade das pessoas, aliados a um meio ambiente saudavel; e quais sao as outras iniciativas que partem de setores que apenas tem interesses economicos e politicos nefastos, utilizando-se de teses ambientalistas para atingirem seus objetivos.
(ps:meu teclado nao “fala portugues”)
Na pratica essa dicussão vale de que? Se a resposta for sim, estamos aquecendo o Planeta!! e ai? Os dignos cientistas estão elaborando técnicas ou estudos para reverter o processo? existe essa possibilidade? pelo menos em nível local? Essa é uma discussão muito teórica e pouco prática, por hora sabemos que a camada vegetal da amazonia ajuda no regime das chuvas no Brasil, correto? alguém esta fazendo algo para melhorar sua localidade? As áreas agricultaveis estão sofrendo sérios danos devidos a secas/cheias. Se o Oceando vai invadir cidade A ou B dentro de 30 anos, já esta sendo feito algo para remediar esta situação. Ao invés de negar ou aceitar um evento natural que já esta em andamento, vamos nos preocupar mais com os seres humanos que estão sendo impactados por essas mudanças,,,, nos proximos 50 anos, não ira abaixar os níveis de CO² lançados na atmosfera, ainda não estamos preparados para isso, portanto. Ao inves de falar, SIM QUERIDA, ESTAMOS AQUECENDO A ÁGUA DOS OCEANOS, a pergunta poderia ser outra? O QUE FAZER PARA ABAIXAR A TEMPERATURA DO OCEANO? Por favor senhores especialistas e blogueiros,,,,resolvam os problemas,,, proponham soluções, políticas públicas,,, ao invés de apenas rejeitar e criticar…
Recentemente enviei e-mail a Suzana Singer -ombudsman da Folha de Sao Paulo – solicitando que a empresa abra espaco para que outros jornalistas cientificos que possuam posicao diferente ao jornalista de plantao Claudio Angelo. Mais informacoes disponiveis sao necessarias, pois possibilitarao realmente um debate mais equilibrado sobre o tema. Sugiro aos os leitores da Folha, que também pensam assim, a enviarem e-mail para Suzana Singer.
Sr. Érico Martins, por favor me indique onde está essa informação que 97% dos climatologistas concordam com o aquecimento global antropogênico. Grato!!
Na verdade o que se chama de aquecimento global, não é que o planeta está aquecendo como um todo,mas sim devido à somatória de pontos com amplos aquecimentos, estatisticamente comprovados,pelas medições meteorológicas, devidamente publicadas.Isso é uma conseqüência direta da queima de combustíveis acelerada a partir do século XVIII, com o desenvolvimento industrial, expansões urbanas,etc.
Esta é uma medição seletiva. Um recorte no fluxo contínuo de variações térmicas. Medições de séculos anteriores mostram aquecimentos maiores num mundo sem atividade industrial. Além disso, as emissões vulcânicas e os gases expelidos pelos oceanos, participam numa escala muito maior na concentração geral de CO2. Mas é o CO2 que causa o aquecimento? Não, é o aquecimento que produz CO2. E o que causa o aquecimento? Explosões solares. As medidas mostram uma correlação ainda mais ajustada entre os dados físicos deste modelo do que o dos aquecimentistas. A partir dos dados do aquecimento, das emissões de gases e das explosões solares, o resultado seria esse: A variação do sol causa efeito no mar. O mar, em sua lenta variação térmica leva séculos para se aquecer. Aquecido, este libera maior CO2. Então a correlação entre o aquecimento do mar e o CO2 existe. Mas é inversa. Este esquema ainda não foi negado. Nunca encontrei um estudo que dissesse “não, as coisas não acontecem assim”. Nunca vi sequer alguém negar ou duvidar. Só omitir. Um debate em que o instrumento retórico é a omissão do discurso adversário não é debate, é propaganda. Propaganda difícil de reconhecer como tal porque o esquema de imaginação sociológica simplória e doutrinária dos opinadores, não permitem conceber a razão econômica dos anunciantes. Conclusão: Se as pesquisas mostram que está havendo aquecimento, e isso os negacionistas climatologistas não negam, não há justificativa para culpar o CO2, não há justificativa de que tal aquecimento seja algo especialmente grave (até porque não foi o maior já enfrentado) e não há justificativa para dizer que a taxa CO2 varia significativamente com a ação humana. E considerando a ausência de pesquisadores não vinculados ao painel da ONU confirmando os aquecimentistas, não há justificativa de credibilidade (enquanto, por outro lado, existem muitos negacionistas em centros universitários de prestígio).
Desculpe, Helio, mas precisas te informar melhor. Ou então estás fazendo exatamente aquilo que criticas, omitindo e espalhando a desinformação. Ninguém nega que o aquecimento do mar libere mais CO2 mas isso não quer dizer que não exista a mudança climática provocada pelo homem.
http://www.skepticalscience.com/co2-lags-temperature.htm
Ok. Fiz uma pesquisa e achei o fonte que afirma que a maioria dos climatologistas estão do lado dos alarmistas: http://tigger.uic.edu/~pdoran/012009_Doran_final.pdf Mas alguem alegou 97%, e na pesquisa que fiz da lista de pesquisadores sobre o clima, este valor não confere. Nesta pesquisa que fiz, a maioria dos astrofísicos atribuem ao sol a causa do aquecimento, o que é desmentido por apenas uma: http://en.wikipedia.org/wiki/Joanna_Haigh É desonestidade contudo, afirmar que entre os negacionistas só tem charlatães e pesquisadores sem importância: http://en.wikipedia.org/wiki/Scientists_opposing_the_mainstream_scientific_assessment_of_global_warming
O que me impressiona também é como que o Piers Corbyn pode ter vencido apostas sobre a previsão ambiental baseado em manchas solares, sem que isso signifique um indício de que o comportamento do sol possa ter influência significativa sobre o clima. Ver também: http://blogs.telegraph.co.uk/news/jamesdelingpole/100102296/sun-causes-climate-change-shock/ para mais informações contra os alarmistas: http://wattsupwiththat.com/2011/08/25/some-reactions-to-the-cloud-experiment/#more-45850
Este artigo omite que dentre os “negacionistas” estão quase todos os climatologistas respeitáveis que não tem vínculos com o IPCC e com Ongs ambientalistas. É incrível que com todo barulho feito pelos “aquecimentistas” não tenha aparecido um única resposta séria às objeções feitas no documentário “Global Warming Swindle”. Aqui também há uma inversão. Qualquer pessoa medianamente informada sabe que os aquecimentistas tem muito mais voz na mídia, muito mais repercussão para o público leigo do que os negacionistas. Se no mundo acadêmico são os negacionistas que fazem mais barulho então é caso de pesar na balança quais das maiorias têm mais chance de ter razão, a dos jornalistas ou dos climatologistas. A opção deste artigo sugere uma opção corporativa.
97% dos climatologistas concordam com a tese do aquecimento global antropogênico. Os negacionistas não são respeitaveis: vários deles esconderam que recebem dinheiro de industrias de petroleo e carvão e já foram pegos falcificando dados para tentar espalhar duvidas sobre o aquecimento global.
Não existem objeções serias ao fajuto documentário global warming swindle?! Você está me gozando?
Na comunidade cientifica o debate já está encerado e os negacionistas perderam por não serem capazes de apresentar nem pesquisas nem teorias que comprovacem seus argumentos.
Aquecimento global é a maior farsa ja inventada pela ONU!!! Na verdade o planeta esta esfriando desde 1998. Procurem saber mais!!!
Antônio, menos teoria da conspiração e mais informação, por favor. Tu que está precisando saber mais e não acreditar em qualquer coisa que lê por aí.
Acho que o mais adequado seria comparar revistas científicas. A comparação de um artigo da Veja com um outro da Nature Climate Change pode ser tendenciosa.
Também acho estranho o nome da revista científica, que parece demonstrar um posicionamento prévio quanto ao tema em questão.
O melhor neste caso acredito que seria a mídia propor um debate com cientistas defendendo suas posições.
De minha parte, pelo que ouvi/li até o momento de especialistas na mídia, concordo mais com os “negacionistas”. Porém, é evidente que a questão não está cientificamente fechada.
Há dois pontos muito interessantes no seu post. O primeiro é o fato de você ter grifado a palavra ‘radicais’ como se quisesse apontar uma certa intolerância dos autores do artigo da Veja. No entanto, ao longo do seu texto, insiste em usar a expressão ‘negacionistas’, altamente pejorativa.
O segundo ponto, é que você parece não perceber que o processo de investigação científica SEMPRE seguiu esse rumo. Há uma hipótese, que deve ser testada, retestada e contestada até que possa ser aceita. É justamente porque ciência não é religião que os negacionistas (prefiro céticos) são tão importantes. Você já parou para pensar que, se não fosse a chatice dos negacionistas, talvez o erro sistemático do XBT não fosse detectado? Ou se não fosse a inconveniência dos céticos, os modelos do IPCC não seriam constantemente aperfeiçoados?
Depende de que céticos você tem em mente: os que têm expertise na área e publicam em periódicos científicos (conheço vários) são, realmente, os que fazem a ciência avançar. Mas não são esses, infelizmente, os que fazem barulho, e sim os negacionistas.
É um absurdo a fundamentação da coluna.
1 – Formulo a hipótese que o clima está aquecendo.
2 – Começo a medir sua variação natural.
3 – Percebo que o equipamento é ineficiente para o propósito que foi definido.
4 – Percebendo que o equipamento é ineficiente tenho forçosamente de admitir que a série de dados pode estar errada.
5 – Assim faço a correção pós fato desses dados errados e a partir deles tiro conclusões absolutamente corretas sobre o aquecimento dos oceanos?
Ciência não se faz dessa forma.
ps. as teses darwinistas sobre a evolução das espécies estão incorretas. Algumas idéias centrais permanecem (mais ou menos [in]alteradas), mas os fundamentos são completamente diferentes.