Dia da marmota
15/06/12 08:24MEU AMIGO e blogueiro popstar Rafael Garcia costuma chamar as negociações ambientais internacionais de “dia da marmota”. Para os de menos idade, trata-se de uma referência ao filme “Groundhog Day”, com Bill Murray, cujo título foi traduzido em português como “O Feitiço do Tempo”. O protagonista acorda todos os dias na mesma data e seu dia é sempre igual à véspera.
No caso da ONU, o roteiro do dia da marmota é o seguinte: um texto é colocado sobre a mesa de negociação numa conferência após vários encontros ao longo do ano para formatá-lo. Países ricos e pobres brigam porque os pobres querem que os ricos façam tudo e os ricos não querem fazer nada. Todo mundo se recusa a assumir compromissos e impasses fundamentais permanecem no texto até o dia da conferência de alto nível. Eventualmente um grupo ou delegação mais teatral dá uma magoadinha e se retira da sala durante a negociação de um tema mais espinhoso, diante da teimosia de outros grupos em não ceder aos seus caprichos.
Chegam os ministros ou os chefes de Estado, com tudo por decidir. A plenária final se arrasta pelas madrugadas de quinta e sexta-feira (a data oficial de encerramento é sempre uma sexta-feira). Há choro, ranger de dentes, conchavos mil e, depois que todos os bodes são retirados da sala, comemora-se um avanço milimétrico com aplausos e sorrisos — sempre na manhã de sábado.
(Uma exceção a esse roteiro foi a famosa conferência de Copenhague, em 2009, que terminou com fuga de chefes de Estado na sexta e — literalmente — sangue e porrada na madrugada de sábado.)
Até aqui, a Rio +20 está dentro do script. Hoje, em tese, é o último dia de negociação, e os pontos principais — a mudança no status do Pnuma, o financiamento ao desenvolvimento sustentável e a renovação dos compromissos de 1992, já abordada aqui — ainda têm um longo caminho pela frente antes do consenso. O G77, o bloco dos países em desenvolvimento, ficou dodói e saiu da sala de discussão de economia verde depois de um bate-boca básico com EUA, UE e Canadá sobre financiamento. Arábia Saudita e Venezuela, as potências fósseis de sempre, têm bloqueado todas as discussões sobre energia, veja que espanto.
Hoje, sexta, a perspectiva é de a negociação se arrastar pela noite. E eu aposto que não termina. Ontem o “Earth Negotiations Bulletin”, uma newsletter que resume tudo o que aconteceu nas salas de reunião na véspera, dizia que os delegados já estavam botando entre colchetes seus planos de ir à praia no fim de semana. Pelo andar da marmota, os dias dos Diálogos sobre Desenvolvimento Sustentável (16 a 19) serão usados para dialogar sobre o texto-base da conferência.
Os negociadores brasileiros estão vendo a água bater em seus diplomáticos glúteos e já começaram a se mexer. Ontem, observadores presentes ao Riocentro relataram que já estão ocorrendo encontros bilaterais paralelos, apelidados de “não-não encontros” por seu caráter clandestino. Parece conspiração, mas é também uma velha prática diplomática: debater em grupos pequenos e levar posições que tenham consenso nesses grupos às plenárias. Brasil, EUA e Dinamarca já andaram discutindo energia num desses “não-não encontros”.
A marmota volta a sair de sua toca hoje no gélido Riocentro para anunciar a previsão do tempo. Acho bom os negociadores andarem mais depressa, porque na quarta-feira que vem quem vai dar o beijinho de bom dia neles não é a Andie McDowell, mas sim a dona Dilma.
Não teremos NADA de concreto, infelizmente, como sempre, o mundo esta voltado para a economia e não para o meio ambiente.
nada de relevante esta sendo discutido nesse encontro, o Brasil não tem moral nenhuma para propor nada, diga-se o código agrário, ops, florestal, que foi vetado pela dilma, onde tivemos um retrocesso,,, o incessante desmatamento da amazônia, etc,etc,etc…
Rio+20 é para Inglês ver, para os gringos passearem e para tentar de alguma maneira encobrir as mazelas ambientais existentes no mundo. Viva o consumo, viva o lixo,,, viva os nossos 7.000.000.000 de pessoas que precisam comer e cagar todo dia neste nosso pequeno e finito mundo….
Seria muito mais interessante ler opiniões de pessoas especializadas do que esse relato banal e pedante de um repórter jornalístico. Post lamentável, equivocado, mal escrito e irrelevante, com todo respeito, peça demissão desse jornal e vá ser alguém na vida, rapaz.
Há um grande problema no fato de o Brasil não ter feito a lição de casa, não?
A palhaçada do Código Florestal deixa o país em posição muito ruim para ter moral de botar banca em uma intervenção mais incisiva nessa negociação.
[]s,
Roberto Takata